terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Barbárie Daqui.


Se você morador de Rondon ainda não sabe, nesta manhã, por volta das 11hs, próximo à ladeira do S, um caminhão transportando refrigerantes tombou e pegou fogo. O motorista morreu carbonizado, a carga foi saqueada por dezenas de pessoas, o corpo do motorista ficou semi-exposto dentro da cabine e nossos companheiros homo sapiens se revezaram fotografando e filmando  com seus celulares, matando a sua sede de curiosidade mórbida.

Tudo isto que está escrito neste parágrafo anterior aconteceu de fato, é verdade, não é invenção minha.

Além disso, ouvi uma pessoa comentando que alguém teve a nobreza de pegar uma varinha, se esgueirar pelas ferragens e cutucar o homem que morreu queimado para poder ver melhor. 

Assustado, perguntei para a pessoa que me falou do acontecido com a vara: - mas por que? Ele, também indignado: - isso é peão vagabundo que não tem o que fazer, num respeita nem um homem morto.

Nunca tive a vontade de fotografar pessoas mortas e certamente não fiz isso hoje, mas tenho a curiosidade de observar pessoas que tem curiosidade de observar pessoas mortas, principalmente a atração deles por morte trágica. Me impressiona do que nossa espécie é afim.

Não me interessa o sensacionalismo, nem me interessa o sensacionalismo sobre o sensacionalismo que nem sei se pode ter o mesmo nome. Acho que pode em alguns casos, neste caso por exemplo. Nem sei também se isto que estou escrevendo é sensacionalismo, deve ser, afinal a palavra parece estar relacionada ao tema mais do que ao conteúdo de um texto, ou talvez seja o contrário.

A curva onde aconteceu o acidente não tem sinalização indicando que é uma curva acentuada, mesmo sendo um lugar de constantes acidentes. Esta curva é uma daquelas curvas que quando se está viajando você percebe várias freadas, marcas de pneus, arranhões no asfalto, esta curva é assim.

A estrada está boa, está ótima. Recém capeada, tem sinalização horizontal -  aquelas faixas amarelas pintadas - mas não tem as placas que indicam que esta não é uma curva qualquer, é uma curva que exige uma redução mais intensa da velocidade. Foi esta curva que matou este homem que ainda não sabemos o nome.

O que leva a crer que quem o matou foi a curva foi o relato do Márcio, eletricista que dirigia no sentido contrário ao do caminhão e que por pouco, segundo ele, não foi atingido pelo veículo desgovernado que invadiu a contramão, saiu da pista e capotou.

Márcio relata que imediatamente após a capotagem a buzina do caminhão começou a soar. Márcio, seu irmão e o outro ocupante do veículo encostaram o carro num lugar seguro, ainda com imensa nuvem de poeira que o caminhão levantou ao capotar, se aproximaram para oferecer socorro quando viram o fogo tomando conta, então não puderam fazer mais nada. Aquele assobio da buzina, aquele silvo, aquele sibilo nunca vai sair da memória de márcio, segundo ele, nunca.

O saque começou quando o fogo acalmou e não havia mais nada que pudesse ser feito pelo homem. Um carro pipa - segundo dizem, voluntariamente cedido pelo sr. Moacir - acabou com as chamas, a polícia deu tiros para o alto, usou spray de pimenta, mas a sede de refrigerantes era maior. A sede de ver gente morta era maior. Então a multidão fez-se vencedora e as sacolas, motocicletas, bagageiros, carrocerias... tudo se enchia de cocas, fantas, uvas. E os cartões de memória se enchiam de bytes com as mais tristes imagens que os amantes do “gore” se deleitam.


Nesta manhã, aquela curva na ladeira do S fez o papel da “pedra do CESP” e satisfez, mesmo que por pouco tempo, a sede da barbárie. 

E eu estou aqui, ajudando a matar a sede daqueles que não puderam comparecer... mas é o direito sagrado à informação.

3 comentários:

Robson Veiga disse...

Fico a imaginar, caso fosse um caminhão de livros, será se as mesmas pessoas iriam parar da mesma forma, a carregar também todo conteúdo num breve espaço de tempo? Creio que não, pois na semana passada mesmo, um caminhão entupido de livros tombou numa rodovia destas em São Paulo, e pelas imagens, não vi nenhum cidadão preocupado em levar um exemplar se quer! Já em relação à curiosidade, melhor nem comentar, porém, em relação à tua escritura, meu caríssimo Ricardo Almeida, digna de nota! Já sou seguidor, e fã ao mesmo tempo, sucesso!

Robson Veiga disse...

Fico a imaginar, caso fosse um caminhão de livros, será se as mesmas pessoas iriam parar da mesma forma, a carregar também todo conteúdo num breve espaço de tempo? Creio que não, pois na semana passada mesmo, um caminhão entupido de livros tombou numa rodovia destas em São Paulo, e pelas imagens, não vi nenhum cidadão preocupado em levar um exemplar se quer! Já em relação à curiosidade, melhor nem comentar, porém, em relação à tua escritura, meu caríssimo Ricardo Almeida, digna de nota! Já sou seguidor, e fã ao mesmo tempo, sucesso! Robson Veiga

Robson Veiga disse...

Fico a imaginar, caso fosse um caminhão de livros, será se as mesmas pessoas iriam parar da mesma forma, a carregar também todo conteúdo num breve espaço de tempo? Creio que não, pois na semana passada mesmo, um caminhão entupido de livros tombou numa rodovia destas em São Paulo, e pelas imagens, não vi nenhum cidadão preocupado em levar um exemplar se quer! Já em relação à curiosidade, melhor nem comentar, porém, em relação à tua escritura, meu caríssimo Ricardo Almeida, digna de nota! Já sou seguidor, e fã ao mesmo tempo, sucesso!