quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CHUVA DE CERVEJA


Em dezembro de 2010, eu e meu pai voltávamos do sítio no final da tarde, começo de noite. Era 27 de dezembro e voltávamos pra casa num final de tarde qualquer. Meu pai guiava a moto e eu vinha na garupa. Nada extraordinário, tudo exatamente como deve ser, vínhamos em baixa velocidade, meu pai sempre dirige devagar.

Na Avenida Marechal Rondon, quando passávamos pelo quebra-molas que fica na avenida quase no cruzamento com a rua Castro Alves, próximo à Leolar, exatamente quando estávamos sobre o quebra-molas, passou pela nossa esquerda nos ultrapassando, com velocidade bastante acima do que seria normal para um quebra-molas, um caminhão de cervejas. O caminhão passou em velocidade bastante acima do que se espera numa situação como aquela.

Um segundo após a passagem do caminhão ao nosso lado, grades e garrafas de cervejas começaram a despencar, por pouco não nos atingindo. As garravas voaram alto, e pipocaram no asfalto. Eu e meu pai fomos molhados por cerveja e atingidos por pequenos cacos de vidro. Tomamos um susto imenso, não nos machucamos, nenhum arranhão, mas tomamos um grande susto. O caminhão parou poucos metros à frente e deixou um rastro de engradados, cacos, garrafas quebradas e cerveja escorrendo pelo asfalto, rolando bueiro abaixo.

A dinâmica do acontecido obviamente se deu, segundo as leis da física quando alguma força supera a força da gravidade, aconteceu que ao passar pelo quebra-molas em velocidade inadequada, houve de a carroceria se comportar como uma catapulta, usando a energia acumulada no solavanco produzido pelo quebra-molas para expulsar os engradados que estavam atrás do último eixo do veículo para fora da carroceria e logo depois, como não poderia deixar de ser, pois nunca se viu garrafas de cerveja flutuando por aí, o que certamente seria curioso de se observar, as grades e garravas vieram ao chão por sorte sem machucar ninguém.

Hoje talvez seja um bom dia para mostrar estas imagens pois talvez a causa deste incidente tenha sido a mesma causa de outros semelhantes no dia-a-dia de Rondon, pois quem conhece a cidade sabe dos quebra-molas, sabe onde ficam, mas quem é de fora corre o risco de passar direto, levando no mínimo um baita susto, talvez um dano material, como foi o caso, mas eventualmente alguém pode se machucar. 
Não existe sinalização nem vertical nem horizontal indicando onde ficam as lombadas. O que torna mais preocupante a situação é que o asfalto acaba de ser recapeado,deixando quebra-molas mais difíceis de ver.

Se não me engano deve ser de responsabilidade do governo federal tomar providências para sinalizar a via, tendo em vista que é uma BR. Entretanto, talvez o próprio governo municipal possa fazer algo à respeito. Não sei, espero que sim.

Houve quem lamentasse profundamente o ocorrido tendo em vista que o líquido precioso foi-se para sempre pelos subterrâneos da cidade. Houve até quem manifestasse profunda insatisfação por não estar no lugar no exato momento em que choveu cerveja, tendo em vista que parece ser um sonho antigo de amantes do suco de cevada, que eventualmente tem sua mente invadida por desejos de piscinas de cerveja, banheiras de hidromassagem lotadas com ela. Mas chuva de cerveja certamente seria o mais surreal dos cenários que talvez se possa imaginar.

Entretanto, naquele dia os trabalhadores responsáveis pela carga preciosa, levaram um grande susto e tiveram um grande prejuízo que provavelmente teria sido evitado com uma sinalização adequada.

Mas que choveu cerveja em Rondon, choveu sim que eu vi.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Barbárie Daqui.


Se você morador de Rondon ainda não sabe, nesta manhã, por volta das 11hs, próximo à ladeira do S, um caminhão transportando refrigerantes tombou e pegou fogo. O motorista morreu carbonizado, a carga foi saqueada por dezenas de pessoas, o corpo do motorista ficou semi-exposto dentro da cabine e nossos companheiros homo sapiens se revezaram fotografando e filmando  com seus celulares, matando a sua sede de curiosidade mórbida.

Tudo isto que está escrito neste parágrafo anterior aconteceu de fato, é verdade, não é invenção minha.

Além disso, ouvi uma pessoa comentando que alguém teve a nobreza de pegar uma varinha, se esgueirar pelas ferragens e cutucar o homem que morreu queimado para poder ver melhor. 

Assustado, perguntei para a pessoa que me falou do acontecido com a vara: - mas por que? Ele, também indignado: - isso é peão vagabundo que não tem o que fazer, num respeita nem um homem morto.

Nunca tive a vontade de fotografar pessoas mortas e certamente não fiz isso hoje, mas tenho a curiosidade de observar pessoas que tem curiosidade de observar pessoas mortas, principalmente a atração deles por morte trágica. Me impressiona do que nossa espécie é afim.

Não me interessa o sensacionalismo, nem me interessa o sensacionalismo sobre o sensacionalismo que nem sei se pode ter o mesmo nome. Acho que pode em alguns casos, neste caso por exemplo. Nem sei também se isto que estou escrevendo é sensacionalismo, deve ser, afinal a palavra parece estar relacionada ao tema mais do que ao conteúdo de um texto, ou talvez seja o contrário.

A curva onde aconteceu o acidente não tem sinalização indicando que é uma curva acentuada, mesmo sendo um lugar de constantes acidentes. Esta curva é uma daquelas curvas que quando se está viajando você percebe várias freadas, marcas de pneus, arranhões no asfalto, esta curva é assim.

A estrada está boa, está ótima. Recém capeada, tem sinalização horizontal -  aquelas faixas amarelas pintadas - mas não tem as placas que indicam que esta não é uma curva qualquer, é uma curva que exige uma redução mais intensa da velocidade. Foi esta curva que matou este homem que ainda não sabemos o nome.

O que leva a crer que quem o matou foi a curva foi o relato do Márcio, eletricista que dirigia no sentido contrário ao do caminhão e que por pouco, segundo ele, não foi atingido pelo veículo desgovernado que invadiu a contramão, saiu da pista e capotou.

Márcio relata que imediatamente após a capotagem a buzina do caminhão começou a soar. Márcio, seu irmão e o outro ocupante do veículo encostaram o carro num lugar seguro, ainda com imensa nuvem de poeira que o caminhão levantou ao capotar, se aproximaram para oferecer socorro quando viram o fogo tomando conta, então não puderam fazer mais nada. Aquele assobio da buzina, aquele silvo, aquele sibilo nunca vai sair da memória de márcio, segundo ele, nunca.

O saque começou quando o fogo acalmou e não havia mais nada que pudesse ser feito pelo homem. Um carro pipa - segundo dizem, voluntariamente cedido pelo sr. Moacir - acabou com as chamas, a polícia deu tiros para o alto, usou spray de pimenta, mas a sede de refrigerantes era maior. A sede de ver gente morta era maior. Então a multidão fez-se vencedora e as sacolas, motocicletas, bagageiros, carrocerias... tudo se enchia de cocas, fantas, uvas. E os cartões de memória se enchiam de bytes com as mais tristes imagens que os amantes do “gore” se deleitam.


Nesta manhã, aquela curva na ladeira do S fez o papel da “pedra do CESP” e satisfez, mesmo que por pouco tempo, a sede da barbárie. 

E eu estou aqui, ajudando a matar a sede daqueles que não puderam comparecer... mas é o direito sagrado à informação.