sábado, 4 de outubro de 2008

Livre

Ontem eu fui até o apartamento onde moro pegar um material que seria usado num evento que a empresa que trabalho estava realizando, então abri o portão da frente do prédio (não tem porteiro), entrei, e, antes de passar pelo portãozinho que dá acesso as escadas passou por mim um senhor falando ao celular:
- Fala rapaz, você é só furo não é cara?...
Só ouvi este principio da conversa e subi correndo pra poder descer logo, pois um amigo que trabalha no mesmo lugar que eu já estava pra passar pra pegar o material pro evento, então, subi correndo, peguei o material, desci e fiquei sentado na calçada em frente ao prédio aguardando. O senhor que eu havia visto quando entrei estava sentado embaixo da marquise do prédio e continuava a conversa que estava num tom aparentemente amigável. Não olhei pra ele nenhum momento, a não ser de soslaio e rapidamente, pois eu não queria ser inconveniente. E lá estávamos: eu sentado no meio-fio e aquele senhor sentado embaixo da marquise. O diálogo parecia ser sobre a venda de algum terreno ou algo assim.
Então o ouvi dizendo tranquilamente:
- Tudo bem, então, segunda feira a gente se fala.
Depois desta despedida cordial, quase me assustei com um barulho de algo se quebrando e ficou claro que era o celular, então, de soslaio novamente vi que ele havia arremessado o seu aparelho contra o chão com toda a força que ele parecia ter. O aparelho voltou a ser o que era antes da linha de montagem: bateria pra um lado, capa pro outro, teclado pra esquerda, display pra direita e etc. Sem pronunciar uma sílaba sequer, ele andou devagar catando e juntando as peças e tentou rapidamente remontar o aparelho e não obteve êxito, então, pacientemente, se agachou, colocou o celular num canto da calçada, achou não sei onde um paralelepípedo ou um pedaço de meio fio, se dirigiu até o aparelho, se ajoelhou e começou bater no celular. E fazia isto sem gritos ou palavrões, batendo cada vez mais forte e eu, sem olhar pra traz, sabia exatamente o que estava acontecendo e comecei me identificar com a causa daquela pessoa. Aquilo, aquelas pancadas que ele dava no celular, destroçando-o por completo, soavam pra mim como um ritual, uma cerimônia de purificação. Não me movi, apenas fiquei ouvindo as pancadas que num certo momento sincronizaram com as batidas do meu coração, fiquei imaginando a cena daquela pessoa ajoelhada como numa prece, como num ritual futurista de sacrifício, comecei a me ver em minha mente comemorando a cada pancada e torcendo por aquele (agora) meu amigo. Era como se com cada pancada que ele dava, eu também estivesse segurando na mão dele pra bater junto. Por dentro de mim eu estava gritando:
- Isso! Isso mesmo! Acaba com ele! Não deixa sobrar nada! Faz virar poeira! Esse maldito nos escraviza! Ele vos faz refém da ansiedade! Ele não nos deixa ser livres!
Após se certificar de que não haveria nenhuma possibilidade de se aproveitar nada daquele pequeno monstro, o meu amigo do peito, cansado é claro, pois o inimigo era poderoso e a batalha foi árdua, se levantou e entrou no prédio novamente carregando consigo o silencio e a leveza que a catarse lhe trouxe.
Admito que talvez o inimigo dele não fosse o celular (pelo menos não conscientemente) e que alguém deve estar lendo isso aqui se compadecendo pelo coitadinho do telefone, pobres vítimas, admitam que aquele homem não teria passado por aquela situação, pelo menos não naquela hora e naquele lugar se não houvesse o celular (da até vergonha de falar essa palavra: celular).
Não sei o nome dele, não sei quem ele é, e realmente não sei se ele dormiu bem naquela noite, não sei se ele se arrependeu do que fez ou se teve um infarto devido o excesso de esforço, só sei que, sem saber, naquela noite ele ganhou um amigo.

2 comentários:

Cassandra disse...

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Cassandra disse...

Nem querendo ser livre você se livra! Será que é mensagem subliminar? Você se deixar escravizar? Acho que às vezes. Certas escravidões são até boas, sabe...